O sonho do ex-nadador agora é priorizar ações de inclusão e acessibilidade. Somente em um mês, ele influenciou mais de 1.500 pessoas em quatro cidades.
Aposentado desde 2016, depois dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, Clodoaldo Silva, um dos atletas paraolímpicos mais populares do país, segue outra missão. O atleta viaja por todo o Brasil em prol da inclusão e da acessibilidade. Para além das palestras que ministra nas empresas, Clodoaldo tem feito centenas de eventos beneficentes e lançou o Festival Tubarão Paralímpico, que reúne crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos com diferentes tipos de deficiência: física, intelectual e visual.
No mês de junho, Clodoaldo não teve folga e participou das etapas do Festival em São Paulo, Brasília, Curitiba e Natal. Em um único mês, ele entregou cerca de 700 medalhas para os participantes. Conheceu os pais dos inscritos, influenciou crianças e adolescentes, trocou ideias com profissionais do setor, mobilizou estudantes de educação física de universidades e, o principal, realizou uma ação totalmente inclusiva, acessível e cheia de amor.
O ex-nadador está convencido de que esse é o melhor caminho a ser seguido por ele daqui pra frente. “Se pensarmos que desses cerca de 700 participantes nós temos envolvidos pelo menos mais uma pessoa, nós tocamos nas vidas de quase 1.500 pessoas em um único mês. O que eu puder fazer para viabilizar essa ação no máximo de cidades pelo Brasil eu vou fazer. A realização do evento não é cara, mas precisamos de condições mínimas e de parcerias para atender as necessidades das pessoas e também tocar na alma delas”, afirma Clodoaldo Silva.
Confira abaixo a matéria exibida pela TV Cabigi, filiada da Rede Globo em Natal.
Histórias que emocionam
Na primeira Etapa do Festival Tubarão Paralímpico, realizada em São Paulo, Clodoaldo conta que se emocionou demais. Lá, cerca de 310 pessoas participaram do Festival. “Cada medalha que eu colocava no pescoço de uma criança ou adulto eu chorava de alegria por dentro e agradecia pela missão que estava. Foi mágico”, afirma.
Entre as histórias, duas que ele faz questão de citar a da Evellyn e do Gabriel. A Evellyn ele conheceu em 2015 em uma feira de acessibilidade, quando convido-a para treinar em São Caetano, Clube que defendia à época. Lá eles se conheceram e conversaram. Ela se convenceu de procurar um local para treinar, já que São Caetano era longe demais para ela. Evellyn já praticava natação até 11 anos, quando passou por uma cirurgia.
A menina nasceu com um Aneurisma Cerebral e o rompimento ocorreu quando ela tinha 11 anos. Ela precisou passar por uma cirurgia e logo depois sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Evellyn teve que fazer mais uma cirurgia A Cranioplastia – reparo cirúrgico em que o osso é retirado da parte esquerda frontal de sua cabeça a fim de dar espaço ao cérebro inchado. Depois de 20 dias na UTI, Evellyn despertou. Não lembrava de quase nada. A lesão atingiu o lado esquerdo do cérebro, fazendo com que o lado direito ficasse comprometido: quase não possuía movimentos deste lado. Meses depois, foi realizada mais uma cirurgia para colocar uma placa de titânio. Evellyn ficou com dificuldades de mobilidade do lado direito. Para nadar, por exemplo, só faz com o braço e perna esquerda (Veja mais sobre Evellyn aqui).
Por causa da conversa com Clodoaldo, Evellyn resolveu voltar a nada. Eles se encontraram em 2014 em uma feira. Nesse meio tempo, voltaram a se ver em uma competição oficial. No Festival, Evellyn estava com a equipe que treina, mas como não é iniciante, ela foi somente para incentivar e ajudar os colegas. No reencontro com Clodoaldo, ela disse que hoje é apaixonada pela natação e que um pouco disso é por causa dele. Ela também explicou que o esporte mudou a sua forma de ver o mundo. Ela conheceu outras pessoas e viu que muitas delas tinham mais dificuldades que ela e que a sua deficiência agora é só um detalhe. “É preciso entender o papel de alguém como eu. Uma palavra pode influenciar uma vida. Um conselho ou um gesto fazem a diferença quando se trata de inclusão e de amor. Eu tenho certeza de que o meu papel maior não foi ganhar medalhas. Essas competições de junho me mostraram que o meu real papel está iniciando agora que é o de utilizar o que conquistei para fazer o bem ao próximo. Eu nem sei se mereço tanto”, diz emocionado.
Outro encontro que vale citar é com o Gabriel Acioly, 11 anos, e seus pais. A mãe do menino postou uma foto no feed do instagram dele e a assessoria do Clodoaldo solicitou a publicação. Na troca de mensagens, Débora, sua mãe, disse que eles estavam emocionados pelo evento e pelo carinho com que foram tratados e que eles eram fãs do nadador. Ela contou que ele teve duas paradas cardíacas quando nasceu e que os médicos não acreditavam que ele faria nem um ano. Hoje o menino está com 12 anos e pratica natação.
Gabriel tem deficiência intelectual leve. A mãe conta que depois do seu nascimento mudou a profissão por amor e atualmente é técnica em enfermagem. Segundo ela, ele sempre gostou de nadar, no entanto, as academias e os profissionais não entendiam as suas necessidades especiais.
“Um dia sonhei com ele nadando numa piscina olímpica. Acordei e saí pesquisando sobre as possibilidades até conhecer as treinadoras do Clube Espéria, SP, que acreditaram nele. Hoje temos nos aprimorado nas técnicas e sonhado juntas, oferecendo e desenvolvendo habilidades individuais. Tudo que Gabriel tem que fazer ele me pergunta: Mamãe é facílimo? E eu sempre respondo: É facílimo e você consegue (seja para amarrar o tênis, abotoar a camisa ou nas atividades escolares). E assim, virou nossa palavra motivadora”, declara Débora.
Segundo ela, o Festival Tubarão Paralímpico mudou as vidas da família. “Eu agradeço de todo coração, foi um divisor de água em nossas vidas, com certeza! Gabriel Acioly exibe feliz para todos a sua primeira medalha e já promete ganhar mais”, declarou em depoimento recente no instagram do Tubarão.
“Hoje tenho a tarefa de tocar vidas e ajudar a transformá-las. Não descansarei até fazer com que esse meu novo objetivo seja amplamente atingido. Estou em busca de condições para realizar o Festival em todos os lugares”, completa Clodoaldo Silva.
Festival Tubarão Paralímpico
O Festival Tubarão Paralímpico foi realizado em 4 cidades (São Paulo, Brasília, Curitiba e Natal) no mês de junho. Ele é uma atividade inclusiva e conta com um público diversificado. São crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos com algum tipo de deficiência (visual, intelectual ou física). Essas foram as primeiras edições do evento. Agora, Clodoaldo Silva buscará incentivo para realizar o evento no máximo de cidades em todo o Brasil. As primeiras edições foram realizadas em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Por Gisliene Hesse